* a codorna de "Mozart" e o funk da múmia









fotos:llunkes

Ao pousarem exaustas entre as plantações de milho e trigo após longas e fatigantes travessias pelo Mar Mediterrâneo, as migratórias codornas tornavam-se uma presa muito fácil - e deliciosa - para os antigos povos do Nilo. Suas pequenas e preservadas carcassas, desenterradas das galerias mortuárias na região do Cairo, revelam que até os enfaixados senhores de braços cruzados e delgadas barbas imperiais sabiam saborear uma boa refeição às custas dessas desavisadas oferendinhas. A morte, aparentemente, não intimidava - em nada - os faraônicos apetites póstumos dos imobilizados fantomas das catacumbas.

Segundo as evidências encontradas nesses sítios arqueológicos, as aves mais circulares e "abastecidas" eram, logo após as suas inesperadas capturas, destrinchadas, submersas no sal e consumidas in natura pelos seus animados raptores. As mais atléticas e de linhagem menos adiposa, por outro lado, eram mumificadas, armazenadas em ornamentados jarros de barro e encaminhadas às tumbas como espirituais e espirituosas “donzelas-de-companhia” e “petits-lanchinhos” para animar a inanimada galera das galerias, afinal, diversão e provisão eram ítens valorizadíssimos em semelhantes condições de lúgubre cativeiro. Ninguém é de ferro, after all.

***

Alguns estudiosos da cultura popular se perguntam, ainda hoje, sobre as obscuras origens de uma antiga crença popular, que fora perpetuada por Luiz Gonzaga em sua imortal (quem se lembra?) canção da codorna. O milagre do “problema resolvido”, supostamente viabilizado pelos revitalizadores ovos dessa estimulante ave ( prescritos como infalíveis corretivos aos inseguros “madurões-que-já-haviam-ultrapassado-a-flor-da-idade-mas-que-ainda-gozavam-dos-efeitos-de-uma-certa-mocidade” ) tem, na verdade, o seu surgimento nas antigas culturas do Egito e da China. Requisitadas pelos seus insuperáveis poderes curativos e afrodisíacos, as codornas gozavam de um prestigioso status quo para esses povos espertos e milenares.

Por azar - e desde então -, a situação deteriorou-se com uma certa rapidez para as emplumadas cocotinhas. De lá para cá, as pobres galináceas têm sido constrangedoramente submetidas a maltratos vexaminosos e desumanos como, por exemplo, no caso do inacreditável funk da codorna. Para aqueles que juram de pés juntos que as múmias são artefatos de um passado longínquo, o vídeo a seguir atesta que esses embrulhados charques sub-humanos não só existem nos dias de hoje, como andam apostando todas as suas bandagens no lucrativo ramo do showbizz. Ao comparar uma com a outra, a funk-pérola-do-cancioneiro-brasileiro faz a cândida e sertaneja codorna de Luiz Gonzaga parecer uma galantessíssima sonatina de Mozart. Que dó maior !!! De repente, me bateu a saudade do velho e sutil Gonzaga!




Assista, então, ao impressionante clip . Fica por sua própria conta e risco! ( Ah, vale a pena você investir um pouco mais do seu precioso tempo e ler os comentários na página do próprio vídeo. Depois você me conta.)

***
receita: codorninhas assadas, musseline de cenouras, amarula e macadêmias, brotos de rabanetes e favas(para 2 pessoas)

2 colheres de chá de mostarda dijon
1 colher de chá de açúcar mascavo ou mel
¼ de xícara de vinho branco seco
¼ de xícara de óleo de oliva
4 dentes de alho esmagados e sem a pele
½ cebola pequena, cortada em cubos pequenos
1 folha louro pequena
2 raminhos tomilho fresco
4 zimbros, esmagados no pilão
pimenta preta moida a gosto
pitada de sal
2 codornas

purê de cenouras e amarula
250 g de cenouras , descascada e cortada em cubos pequenos
½ xicara de licor de amarula
½ xicara de vinho branco seco
2 colheres de sopa de manteiga
pimenta caiena ( uma pitada pois é forte)
noz moscada ralada na hora
sal
¼ colher de chá de essência de baunilha orgânica
gotas de limão se necessário
50 g de macadêmias, levemente torradas

para finalizar o molho
raminho de tomilho
2 colheres de sopa de cebola picada
2 zimbros esmagados
100 ml de vinho branco seco
100 ml de fundo de frango ( caldo de frango)
colher de chá de manteiga gelada
sal e pimenta do reino a gosto
100 g de favas, cozidas na àgua e sal, esfriadas e removidas de suas cascas ( ou ervilhas)
brotos de rabanete (opcional)

PROCEDIMENTO

1.Cortando as codorninhas: Corte as bichinhas conforme a demonstração do vídeo. Reserve os cortes. Em uma bacia de vidro ou inox, misture a mostarda e o mel. Acrescente o vinho branco e misture bem. Com o auxílio de um batedor de ovos, incorpore o óleo de oliva aos poucos, mexendo vagarosa e constantemente. Acrescente o alho esmagado, as cebolas, o tomilho, o zimbro e o louro. Inclua as partes das codorninhas. Misture bem, cubra e leve à geladeira por, no mínimo, 8 horas.

2. Fazendo a musseline: Leve ao fogo as cenouras, o licor, o vinho e a manteiga. Deixe levantar fervura e baixe o fogo ao mínimo. Cubra a panela e deixe cozinhar até as cenouras ficarem macias e o líquido evaporar por completo. Desligue. Acrescente as macadêmias, a baunilha, o sal, a pimenta caiena e a noz moscada. . Deixe esfriar e leve ao processador. Faça um purê macio, acrescentando um pouco de água ou fundo de frango se for necessário. Corrija os temperos e cubra a superfície com um papel filme. Reserve.

3. Assando as pequenas: Aqueça o forno à temperatura de 210 graus. Aqueça uma frigideira no topo do fogão. Retire as codornas da geladeira e drene as peças retirando o excesso da marinada. Tempere com sal e pimenta. Coloque o óleo na frigideira aquecida. Doure as codornas de ambos os lados de cada peça. Leve à frigideira ao forno e deixe assar por 10 ou 15 minutos. Remova a frigideira do forno. Coloque as codornas em um prato e cubra para mantê-las aquecidas. Você irá perceber que há, no fundo da frigideira, um caramelo dourado que grudo no fundo durante o cozimento no forno. Não o desperdice, ele será a base do seu molho.

4. Finalizando o molho: Retire o excesso de óleo da frigideira e retorne com ela ao fogo. Coloque um fio de óleo fresco. Frite as cebolas picadas até ficarem translúcidas, cuidando para o caramelo não quiemar. Inclua o vinho branco, a tomilho e os zimbros e, com o auxílio de uma colher de pau, raspe o fundo da panela para liberar o crosta grudada. Deixe o vinho reduzir até o líquido quase desaparecer. Inclua o fundo de frango. Deixe esquentar. Coe o líquido e retorne ao fogo. Acrescente a manteiga e as favas. Mexa até a manteiga derreter e o molho ficar levemente encorpado.. Sirva com o musseline, as codornas e os brotos de rabanete polvilhados sobre a carne. Bom proveito !

***

Nenhum comentário: