* Cole Porter e a Peruca da Condessa






















foto: llunkes
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O obsceno e deliciosamente picante musical de Cole Porter tinha todos os ingredientes necessários para lançar as caixas-regi$tradoras à estratosfera. All the way up. A desbocada história de Du Barry Was A Lady ( Du Barry Era um Pedaço), que estreiou na Broadway em 39, narra as peripécias de um burlesco chapeleiro que sonha em ser Luís XV, o rei da França. As desordeiras ações do imaginário monarca, armadas com o intuito de levar a sua furtiva amante para um randezvouszinho íntimo em seus aposentos reais, satisfazem as fantasias do chapeleiro, que sonha em consumar o seu amor - não correspondido - por uma jovem cantora. O musical foi um sucesso, como era de se esperar, e algumas das sofisticadas canções de Porter se eternizaram, anos mais tarde, nas impecáveis vozes de Judy Garland e Ella Fitzsgerald.

Se, por um lado, Du Barry Was a Lady é uma ficção do tipo “comédia-besteirol”, por outro, a lengendária Madame Du Barry “was a very real lady, indeed”. Embora o destino lhe tenha reservado um final tragicamente semelhante ao de sua arqui-inimiga, Marie-Antoniette, a última amante de Luíx XV usufruiu, em seus anos de exuberante glória, todos os dourados privilégios que eram destinados à favoritinha do rei. Caprichosa, a condessa-coquette cercou-se de luxo e riqueza. Amante fervorosa das artes, entre elas a gastronomia, tinha uma predileção por couve-flor, um vegetal super em voga entre as elites palacianas desde os ostensivos anos de Luis XIV, outro entusiasta da branquinha. Tal mania custou à ilegítima primeira dama piadas desdenhosas por parte da corte, que associava a sua complexa e entalcada peruca com o formato cônico e albino do vegetal. Du Barry comprendia, entretanto, que tais rumores degradantes não passavam de manifestações de inveja e pouco se importava com os pequenos da corte. Queria mesmo era viver os seus pomposos dias de "vice-rainha". E assim o fez.

Entretanto, após a morte de Luís XV, a também-em-voga-guilhotina trouxe aquele conhecido tom de final-de-balada para as extravagâncias da cortesã. Ao subir ao cadafalso, seu trêmulo e elaborado arranjo de couve-flor, meticulosamente encaixado em sua ornamentada cabeça, se espatifou por terra. Impiedosamente. Era a temível Revolução Francesa sacrificando a sua primeira e, possivelmente, a sua última leguminosa. A partir daí, a história da França (e a da couve-flor) tomou outros rumos. Bem mais democráticos.




receita: Quiche DuBarry (Couve-Flor e Alho Porró)

Toda a vez que você deparar com algum prato francês de nome DuBarry, saiba que a couve-flor é o seu principal ingrediente. Invariavelmente.
(para 8 pessoas)

para o recheio

3 alho-porrós pequenos, lavados e picados
4 dentes de alho, descascados e laminados
1 colher de sopa de manteiga + 1 colher de sopa de óleo de oliva
2 ovos grandes, batidos
1,5 xícaras de quark, escorrido numa peneira
0,5 cabeça de couve-flor, com as floretes separadas
0,5 xícaras de leite integral
1,5 colheres de sopa de mostarda dijon em grãos
50 g de queijo parmesão ralado
sal marinho a gosto
pitada de pimenta caiena
pitada de noz moscada
1 colher de chá de açúcar
lâminas de trufas negras( super-opcional)

para a massa da quiche

300 g de farinha de trigo peneirada
150 g de manteiga cortada em cubos pequenos e resfriada no freezer por 10 minutos
1,5 colher de chá de sal
0,5 colher de chá de açúcar
4 colheres de sopa de água gelada
2 colheres de sopa de vinagre de arroz ou de vinho branco, gelado
equipamento especial: forma de torta-pie de 27cm de diâmetro, rolo de massa, papel alumínio, papel filme, 1 xícara de feijões crus

PREPARO
para a massa

1.Misture a água e o vinagre. Leve ao freezer por uns 10 minutos. Coloque a farinha, o açúcar, o sal no multi-processador.
2.Acrescente os cubos de manteiga. Dê alguns pulsos no motor para que a manteiga e a farinha se misturem levemente até formar uma espécie de areia granulada.
3. Com o motor ligado, acrescente a mistura de água e vinagre. Deixe a máquina rodando até a massa se agrupar levemente junto às paredes do processador (questão de segundos) mas ainda apresentar uma aparência flocosa. Desligue imediatamente. Transfira a massa para uma bacia grande e, com o auxílio das mãos, junte tudo, formando uma bola achatada. Enrole a bola em um papel-filme e leve à geladeira por, no mínimo, uma hora. Para obter uma crosta perfeitamente crocante, o ideal seria deixar a massa na geladeira por várias horas.

pré-assando a crosta

1.Com o auxílio de um rolo de massa, abra a massa do quiche até obter um círculo de 35 cm de diâmetro. Com cuidado, deite a massa na forma e distribuindo-a regulamente por toda a superfície. Descarte o excesso de massa das bordas. (veja o vídeo). Com um garfo, fure toda a base da massa. Cubra a massa com papel alumínio. Coloque os grão de feijão sobre o papel alumínio. Isso irá evitar que o fudo da crosta levante durante o cozimento. (veja o vídeo)
2.Leve a forma ao forno aquecido à 190 graus. Asse a crosta por uns 45 minutos, ou até a borda ficar levemente dourada. Retire os feijões, e o papel alumínio e retorne com a crosta ao forno para dourar a sua base, levemente. Se necessário, proteja as bordas com papel alumínio para não assem demais. (veja o vídeo)
3. Quando a base estiver levemente dourada, retire a crosta do forno(veja o vídeo). Enquanto ela esfria, prepare o recheio da quiche.

para o recheio

1.Cozinhe as floretes da couve-flor por alguns segundos em água fortemente salgada. Retire-as ainda crocantes, escorra e mergulhe imediatamente em água gelada. Isso irá interromper o seu cozimento instantaneamente. Drene e reserve.
2.Em uma panela, coloque a manteiga, o óleo e o alho laminado. Ligue o fogo e frite até o alho ficar fragrante mas ainda incolor. Inclua o alho-porró, uma pitada de sal e baixe o fogo até o mínimo. Cozinhe os alhos por aproximadamente 30 minutos, sempre mexendo, evitando que mudem de cor.Desligue e deixe esfriar.
3.Num recipiente, misture o quark, o parmesão, os ovos batidos, o leite, a mostarda, o sal, a pimenta caiena, a noz moscada e o açúcar. Inclua a mistura dos alhos e misture. Inclua a couve-flor. Misture.
4.Preencha a crosta com o recheio, distribuindo-o homegeneamente por toda a superfície. Leve ao forno a 200 graus até dourar. Retire do forno e deixe esfriar. Sirva.

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PS. Um amigo, ao retornar da França, me presenteou com algumas truffas negras. Um presentasso! Não imaginei, então, nada mais “legitimamente monárquico” do que utilizá-las no topo da Quiche DuBarry. A madame arrasou! Mesmo "guilhotinada".



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