* A batata de Louis Armstrong























foto:llunkes

Em 1927, Luis Armstrong escreveu, segundo alguns críticos, uma das mais memoráveis composições que o século XX já produzira. Décadas mais tarde, Isaac Davis, o bizarro personagem de Woody Allen em “Manhattan”, afirmou que “Potato Head Blues” era uma das provas mais incontestáveis de que valia a pena estar vivo. Outro fã-de-carteirinha, o trompetista italiano Enrico Rava, uma fera do universo jazzístico, incluiu a pérola musical na sua famosa lista dos 21-ítens-do-que-de-melhor-a-humanidade-já-criara. A lista seria, então, enviada para Marte - hipoteticamente - como a irrefutável evidência de vida inteligente na terra.

Declarações exageradas ou não, o que chama a atenção de imediato nessa obra atemporal é o seu ultra bem-humorado título, que tem despertado, desde a sua criação, inúmeras interpretações por parte dos historiadores. Uma das teorias mais convincentes arrisca que “cabeça de batata” seria um termo bastante utilizado entre a comunidade negra chicaguense da época com o intuito de retratar o altíssimo grau de ressaca de um sujeito após a excessiva injestão de "birita" barata. Ou seja, temos aí - em uma tradução mais livre - um verdadeiro "cabeção-com-a-capacidade-de-raciocínio-de-um-tubérculo". Divertido, mesmo. Pois é. É a batata no centro dos holofotes. E a julgar pelo seu passado ligeiramente inglório, quem diria que ela iria tão longe quanto Marte?


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Um dramalhão e tanto, isso sim. A paradoxal história da batata tem todos os ingredientes-chavões de um best-seller bem pegajoso. O suposto enredo, que inicia com a domesticação da raiz, há 10.000 anos atrás (que coincide, somente para situar no tempo, com o nascimento de Raul Seixas), atinge o seu pico dramático por volta do século XVI com a introdução da heroína-vegetal no dito “mundo civilizado”.

Inicialmente confundida pelos espanhóis com uma espécie de trufa, uma iguaria de valor inestimável para os “euro-almofadinhas”, a batata foi imediatamente abduzida das hortas pré-colombianas pelos conquistadores que tinham em mente vendê-la como uma requintada escrava de cozinha. Porém o desfecho não poderia ter sido menos favorável para a indiazinha e seus raptores. Os primeiros 300 anos em terras colonizadoras foram repletos de maus tratos e acusações maliciosas. Injustamente chamada de maçã-de-eva, testículo-da-terra, assassina, indigesta, insípida, causadora de lepra, provocadora de flatulência, incitadora de desejos sexuais proibidos - entre outras tantas malícias - a imigrantezinha enfrentou todos os tipos de preconceito.

Porém, os dias de iluminada redenção estariam ainda por vir, como nos grandes épicos. Pelo final do século XIX, a Europa, atingida por desastres naturais e guerras avassaladoras, encontrava-se desesperadamente necessitada de alternativas alimentares. O continente rende-se, amargamente arrependido, aos inestimáveis serviços da heroína. Era o inicio de uma nova era. De lá, para chegar aos sonoros pratos de Armstrong, foi somente necessário sentar calmamente e esperar pelo nascimento de um novo mártir. O jazz.

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receita: Batatinhas de forno recheadas
para 30 finger food

Este canapé é fácil de fazer, descoladíssimo e muito saboroso, afinal, batata e queijo são infalíveis. O tiro é certeiro. Para facilitar a sua vida, você pode deixar tudo pré-pronto. Na hora que os seus convidados derem o ar da graça, você só terá o trabalho de levá-los ao forno (os canapés) para aquecer e permitir que os queijos se fundam. Na maior tranquilidade.30 micro batatinhas, lavadas e secas
óleo de oliva extra-virgem
sal marinho
pimenta do reino
5 dentes de alho, sem a pele, esmagados

para o recheio100 g de gorgonzola, esfarelado
100 g de catupiri
2 colheres de sopa de queijo granna padano ralado ou parmesão
1 colher de sopa de creme de leite fresco, ou mais
2 fatias de bacon, com o excesso de gordura removido, assadas e cortadas em micro-cubos (opcional)
broto de cebola, ou salsinha, ou ciboulettes ( picados )

PREPARO

1.Corte as batatas em formato de um X de cima para baixo. O corte deve atravessar ¾ do corpo da batata. Cuidar para não cortá-la até a base pois irá se separar em 4 partes.

2.Coloque as batatas em uma bacia. Tempere-as com óleo de oliva, sal marinho e os dentes de alho esmagados. Deixe “marinar”por 30 minutos.

3. Aqueça o forno à 200 graus. Disponha as batatas, lado a lado, numa forma untada, com corte do X voltado para cima. Coloque um pouco de água na forma de modo a cobrir ligeiramente a base da mesma. Cubra a forma com papel alumínio e leve ao forno para assar. Cheque a cada 15 minutos. Quando as batatas estiveram macias e se abrirem ligeiramente, remova o papel alumínio e deixe no forno até dourar levemente.

Para o recheio1.Misture o gorgonzola com o creme de leite até obter uma pasta grossa mas maleável. Inclua o catupiri e o granna padano. Acrescente os micro-cubos de bacon picado. Mexa bem e coloque a massa num saco de confeiteiro.

2. Com o auxílio do bico do saco do confeiteiro, preencha as fendas abertas das batatinhas com a pasta dos queijos. Leve ao forno novamente para aquecer e gratinar levemente. Retire, povilhe com a erva e sirva seus convidados. Bom proveito.

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