* petit gateau salgado












fotos: llunkes


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Buda atingiu o Nirvana, segundo as escrituras, meditando sob a sagrada sombra de uma enorme figueira. Mas cá entre nós - quem, em sã consciência, seria realmente capaz de manter-se espiritualmente impassível sob a perfumada abóbada arbórea de uma agigantada figueira, constelada de figos vertiginosamente cadentes e deliciosamente maduros ? É a iluminação, na certa! E a História jamais confirmou o fato, mas dizem que foi a ingestão prévia de algumas dessas frutinhas paradisíacas, o fator desencadeador e decisivo que induziu o jovem Sidarta ao seu luminoso e permanente estado de orgasmo metafísico. Uou! É de arrepiar, não é mesmo ? E consideravelmente tentador, não concorda ? Pois então? O que está esperando? Bota uma pilha nessa receitinha aí abaixo para ver se as luzes se acendem ! Não custa tentar. Afinal, o Nirvana pode estar logo-logo ali. Bem próximo aos polpudos figos. Tashi delek ! (saudação de despedida em tibetano que quer dizer " tudo de bom" ).


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Petit gâteau salgado de queijo de cabra e amêndoas, figos gratinados, saladinha de beldroega, redução de balsâmico e figos


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E quem disse que, para ser um petit gâteau, o bolinho tem que ser, obrigatoriamente, uma sobremesa e de chocolate? O leque pode ser bem mais amplo quando se parte do conceito genérico de que um petit gâteau é uma tortinha de um recheio cremoso e morninho, encapsulado dentro de uma densa parede firme e crocante. O resto é o resto. A releitura abaixo dessa sobremesa famosinha, além de propor uma funcionalidade inversa - deslocando o que deveria ser o último prato servido em um jantar para a primeira posição dentro desse ranking -, imprime novas sensações ao combinar diferentes aromas e agregar outros procedimentos. É um luxo só. Espero que você também curta o resultado. बोन अप्पेतित (bom apetite em hindu)

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(para 4 pessoas)

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para o petit gâteau



320 g de queijo de cabra boursin (massa ácida)

200 g de amêndoas laminadas, trituradas

2 ovos grandes batidos

1/2 xícara de farinha de trigo peneirada

um cortador de cookies redondo de 8cm de diâmetro

óleo vegetal para fritar (canola)

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para os figos gratinados



9 figos grandes e maduros, lavados e cortados ao meio longitudinalmente

4 ramos de tomilho, somente as folhas, amassados entre os dedos ou no pilão

5 colheres de sopa de açúcar branco fino

4 colheres de sopa aceto balsâmico

pimenta preta moida

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para a redução de figos e balsâmico
1 xícara de aceto balsâmico


2 figos desidratados, cortados em cubos pequenos ou 3 figos maduros fatiados

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para a saladinha de beldroega (* leia sobre a beldroega abaixo )

1 xícara de folhas pequenas de beldroega, lavadas e colocadas de molho em um copo de àgua semi-gelada

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PREPARO
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para o petit gâteau


1. Distribua os queijo de cabra em 4 partes. Preencha o cortadores de cookies com uma das partes do queijo, pressionando ao fundo até formar uma tortinha redonda e com a superfície homogenea. Retire-a com muito cuidado do molde e coloque-a sobre um tabuleiro. Repita a operação com o restante do queijo de modo a obter 4 tortinhas. Leve-as ao freezer para congelar por mais ou menos uma hora.
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2. Retire-as congeladas do freezer e pulverize cada petit gateau com farinha de trigo, retirando o excesso de farinha com a mão. Passe cada tortinha no ovo batido e em seguinda nas amêndoas trituradas de forma que toda a superfície fique coberta com as amêndoas trituradas. Leve os 4 gâteaus ao freezer por mais meia hora.
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para os figos gratinados


1. Em um recipiente de fundo plano, misture o açúcar, o tomilho amassado, a pimenta preta e o aceto balsâmico. Distribua os figos com a parte cortada para baixo e deixe marinar por mais ou menos 1 hora.
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para a redução de figos e aceto balsâmico


1. Coloque em uma panela pequena o aceto juntamente com os figos secos picados ou as rodelas de figo fresco. Cozinhe em fogo baixo até virar a consistência de um xarope leve. Desligue. Retire as rodelas de figo fresco. Mantenha a redução morna até a hora de servir. ( Se usar os cubos de figo desidratado, deixe-as na redução para servir. )
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AO SERVIR
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1. Retire os figos da marinara. Coloque-os com a face cortada para cima em uma forma antiaderente e espalhe um pouco da marinara sobre eles, especialmente parte do açucar. Leve-os ao forno para granitar. Quando dourados e perfumados, retire-os do forno e reserve até a hora de servir.
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2.. Em uma frigideira anti-aderente com 2 dedos de óleo não muito quente, frite as tortinhas (duas a duas) de cada lado até dourarem . (Fique esperto: não as deixe queimar. Trabalhe rápido. Retire-as imediatamente quando prontas. Escorra em papel toalha e mantenha-as mornas..

3. Coloque no centro de cada prato um petit gâteau morno. Espalhe a redução de balsâmico e figos ao redor de cada tortinha. Arranje as folhas de beldroega no topo . Arranje 3 metades de figo gratinado ao redor de cada peça. Sirva-as imediatamente e delicie seus convidados. Bon Appétit !
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(*) A beldroega foi a descoberta da semana. Topei com ela, por acaso, na feirinha de hortifutigranjeiros do brique, no último sabado pela manhã. A principio, o que me chamou a atenção foi o formato quase ornamental dessa estranha plantinha : estava mais para um exótico-serzinho-de-jardim do que para uma familiar-verdinha-de-pomar. Cheguei mais perto e funguei profundamente. Não havia cheiro algum. Perguntei ao produtor do que se tratava. Era uma plantinha de um nome muito estranho que seria utilizada em saladas, ensopados, molhos, etc. "Muito prazer, Beldroega. Meu nome é Luciano. Faz tempo que você anda por essas bandas?" Provei uma folha. Tinha um sabor refrescante, ligeiramente picante, adstringente e cítrico e sua textura era estaladiça e suculenta. Bingo! Achei exatamente o que procurava: uma saladinha leve que contrabalançasse os elementos salgado e doce do queijo de cabra e dos figos gratinados. Seria a adição perfeita ao petit gâteau. Comprei dois molhos da suculentinha, paguei um real e voltei para casa. Feliz.

(*) Aos que querem saber mais sobre a beldroega, segue aí algumas informações curiosas: com propriedades parecidas com as do espinafre, a beldroega é uma planta comum que cresce em descampados e recantos urbanos, normalmente em sítios onde só as ervas se aventuram. As folhas jovens tem um sabor refrescante e podem ser consumidas em saladas ou cozidas ao vapor. As folhas mais velhas podem ser usadas para enriquecer sopas e ensopados. Os talos podem ser consumidos picados para saladas no inverno. No Médio Oriente a beldroega picada com um molho à base de iogurte temperado com alho é servida como acompanhamento de carnes grelhadas. A erva é também o ingrediente emblemático do fattoush, a salada libanesa. A cozedura realça o seu teor mucilaginoso, que fornece um bom engrossamento para sopas e guisados. Na Turquia utilizam-se grandes molhos de beldroega num tradicional guisado de carneiro e feijão e esta erva aparece em sopas em toda a região do mediterrâneo. As folhas são uma grande fonte de Omega-3 e tem mais beta-caroteno que o espinafre. Os talos contém grandes quantidades de vitamina C e a planta é baixíssima em calorias. Ñtão tá, né ?
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